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Ânima, 2011-2013


                                                  
                 
                  Em Ânima é afixada uma pele inteiriça de zebra com focinho, orelhas e rabo, a um cubo transparente com rodízio – a região lombar disposta sobre o topo, a cabeça e as laterais da pele devendo pender sobre as faces laterais da estrutura. Essa pele, interiça, quase sem recortes, com as partes salientes do corpo do animal preservadas, foi encontrada em lojas especializadas em animais empalhados, taxidermia, materiais e objetos científicos*.

                  Para a realização do trabalho fez-se necessário um estudo minucioso sobre os procedimentos adotados para se prensar a pele sem danificar seus volumes; sobre a espessura adequada do acrílico a ser utilizado; sobre os tipos de parafusos a serem usados na junção das placas de acrílico. Num primeiro momento, foi cogitada a utilização de parafusos quase transparentes, assim como um rodízio também transparente. É importante assegurar a leveza, a impressão de levitação de um objeto estruturalmente pesado. A parte lombar do animal não é prensada, nem coberta com acrílico, evocando, pela sua textura, um desejo de toque, enquanto as bordas irregulares da pele inteiriça caindo pelas laterais, sugerem torpor e inércia.

                  A ideia é que o espectador possa visualizar, a partir de um determinado ponto de vista, o desenho abstrato de uma superfície com listras, e logo a seguir confrontar-se com a dimensão orgânica daquela superfície, com a figura do animal “prensado”. Com as quatro rodinhas e sem direção predeterminada, é possível que o cubo se movimente – algo que ao mesmo tempo pode sinalizar e negar o caráter “funcional” do objeto, emprestando-lhe uma carga de ridículo. É como se aquela pele zebrada prostrada sobre o cubo de acrílico com rodinhas zombasse de sua própria insuficiência e nos lembrasse, como a figura do clown, da nossa própria insuficiência.

                  O estado de ânimo evocado pelo trabalho acena uma espécie de autodeboche à todo prova, algo de patético. A despeito da redução do animal ao novo corpo, de acrílico, acredito que haja neste trabalho, nos termos bataillianos, mais humanidade que animalidade. Como mencionado, há a possibilidade de Ânima se movimentar; se nada tocá-lo, entretanto, não sairá do lugar, e acabará tendo algo de uma mobilidade imóvel, uma vez que cada um de seus quatro rodízios, dotado de autonomia de movimento, pode, potencialmente, mover o trabalho numa direção própria. Talvez o trabalho sugira algo de um “bicho empacado” que, por estar nessa condição, resiste a sair do lugar.

                  O arranjo lembra, ainda, o diagrama de uma bizarra natureza-morta, que acentua, por meio do cinetismo sugerido pelas suas listras, a ideia de um lugar que não se fixa. É possível que se reconheçam em Ânima questões relacionadas ao desenho, principalmente à simplificação drástica do desenho animado, em razão da inusitada associação do animal com um objeto que encena uma funcionalidade. Poderíamos lembrar, aqui, como nos desenhos animados de Tom e Jerry, por exemplo, os personagens comprimidos por algum dispositivo semelhante a um compressor, de maneira a trocarem com naturalidade sua forma volumétrica por uma forma plana.

Thiago Honório, novembro de 2011.



* A pele utilizada na realização desse trabalho foi legalmente importada da África do Sul, de Cape Town, pela Global Leathers, de NY, com procedência.






Ficha técnica

Ânima
, 2011-2013
Cubos de acrílico, pele inteiriça de zebra e rodízio
1,00 m x 1,00 m

foto: Edouard Fraipont


Exposições
Estranhamente Familiar, Instituto Tomie Ohtake, SP, 2013







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