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Viravolta, 2008-2010




                Viravolta dispõe, sobre uma superfície elíptica de metal extremamente polida, recoberta por um tipo de verniz utilizado na indústria naval, um par de chifres de touro selvagem* com peles de lebres brancas e negras; o arranjo é encimado por uma cúpula de acrílico cristal; os chifres e as peles têm sua imagem refletida na superfície polida.

                 Assim como em Presa, há em Viravolta a pureza do material bruto. Os chifres e peles estão acondicionados sob a cúpula, como numa vitrina. Diante deste trabalho me ocorre a seguinte questão: do que trataria essa espécie de reconversão de objetos orgânicos, que sugerem a vitalidade perdida, a uma espécie de natureza-morta? Essa questão, que veio à tona em Exposição, reaparece em trabalhos como Viravolta.

                A superfície da estrutura deveria parecer-se com a de um espelho quente, curvo, elíptico, e deveria, paradoxalmente, dar uma impressão de imaterialidade. Ponderei que o uso do latão dourado e estridente, neste caso, acabaria por “roubar a cena”, estabelecendo uma relação hierarquizada entre as partes do trabalho. Buscando um material mais quente, cheguei à tonalidade do cobre, matéria mole, indolente, que deveria ser submetida a uma série de banhos em ácidos e polimentos para que pudesse chegar ao “espelho quente” a que me referi há pouco. O material, depois de polido, também deveria ser submetido a outro banho do verniz usado na indústria náutica para evitar que se oxidasse. Chego assim à “cor” exigida pelo trabalho e à superfície polida que reflete não somente o corpo dos espectadores, mas a arquitetura e os demais trabalhos presentes na sala de exposição. Viravolta é uma espécie de “luxo improdutivo” (para emprestar uma ideia batailliana).

Thiago Honório, 2010.



* Encontrado na feira de antiguidades e “quinquilharias” de San Telmo, em Buenos Aires.




Ficha técnica

Viravolta
, 2008-2010
Chifres de touro selvagem, pele de lebres, metal polido e envernizado e acrílico cristal
100 x 40 x 70 cm (elipse)
95 x ø 60 cm


foto: Edouard Fraipont


Exposições

Corte
, Galeria Laura Marsiaj, RJ, 2011
Corte
, Galeria Virgilio, SP, 2010



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