Trabalho, 2013-2016
Trabalho constitui-se numa série de negociações realizadas com os mestres-de-obras e os pedreiros envolvidos na restauração da antiga subestação de energia Light/Riachuelo/Eletropaulo na cidade de São Paulo – uma construção de 1926, hoje o espaço cultural Red Bull Station – relacionadas às ferramentas (talhadeiras, desempenadeiras, picaretas, arcos de seguetas, formões, enxadas, marretas, cavadeiras, martelos, pás, pontaletes, espátulas, colheres, lixas, discos, serras, foices roçadeiras, ponteiras, pés de cabra) utilizadas nesse restauro. Em meio ao processo dessas negociações, acabaram por ocorrer inesperadas doações, presentes, dádivas, manifestações espontâneas por parte dos mestres-de-obras e pedreiros, por assim dizer.
Discorrendo sobre as instâncias e camadas talvez mais invisíveis que constituem Trabalho, é importante salientar que o mesmo surgiu nas primeiras de semanas de trabalho e no âmbito de uma “residência artística” realizada nesse referido prédio em processo de restauração. Logo, no início da “residência”, o prédio encontrava-se em obras, com mais de uma empreiteira/construtora trabalhando nele. Nesse processo, despertou-me a atenção não só a quantidade de pessoas envolvidas na obra, como o movimento e a intensidade desse trabalho na mesma semana na qual o grupo de artistas participantes dessa edição da “residência artística” a iniciou, que também começou a trabalhar no local destinado a ela.
Comecei, então, a negociar com eles essas ferramentas que estavam em tempo real sendo usadas no restauro. O meu trabalho dependia do trabalho deles. Foram situações regadas por conversas e negociações sutis, respeitosas, pois eu não poderia atrapalhar e tomar um tempo (precioso) dos operários, já que eles encontravam-se numa verdadeira corrida contra o relógio, uma vez que o prédio seria inaugurado dali a uma semana do início da “residência artística”. A partir desses pressupostos, foi que comecei a conversar e a negociar com cada um deles. A maioria das vezes, me era pedido ou solicitado uma ferramenta nova em troca daquela que estava usada, estropiada, gasta, esfoliada, remendada com esparadrapos e/ou outras amarrações de acordo com a contingência ou a circunstância.
Alguns dos pedreiros começaram a ver que eu estava reunindo uma série de ferramentas usadas no ateliê e, inquietos e curiosos diante do meu movimento, manifestaram-se espontaneamente, chegando a me oferecer algumas de suas ferramentas. A partir de um conjunto reunido até o momento de abertura da exposição, optei por escorá-las francamente na parede, e dispô-las a partir de um “desenho” com suas lâminas voltadas para um sem número de direções.
O trabalho não deixa, também, de ter algo de oferenda, a partir da apresentação e disposição dessa reunião meticulosa de ferramentas. Logo, o seu título pode aludir tanto à oferenda, como também é o verbo conjugado na primeira pessoa do singular, indicando uma ação todavia ausente. Trata-se, a meu ver, de uma espécie de testemunho da ausência. Fazia um tempo que queria realizar um trabalho que questionasse as camadas da ideia de trabalho e da expressão “trabalho de arte”. Ademais, é como se Trabalho deixasse em suspenso a questão: onde é que está o trabalho?
Thiago Honório, novembro de 2013.
Ficha técnica
Trabalho, 2013
Ferramentas [pá, alavanca, cavador articulado, marreta, talhadeira, arco de serra, enxada, picareta, desempenadeira dentada, colher de pedreiro, ponteira, chave de dobrar ferro, disco de serra, martelo, serrote, foice roçadeira, cavadeira] utilizadas na restauração da antiga subestação de energia Light/Riachuelo/AES Eletropaulo, negociadas com os mestres-de-obras e pedreiros envolvidos nesse restauro
Dimensões variáveis
Trabalho, 2013-2014
Ferramentas [pá, desempoladeira, ponteira, serra, escova de aço, escada, nível de bolha, gambiarra, cavador articulado, colher de pedreiro, talhadeira, arco de serra, picareta, chave de dobrar ferro, sarrafo, desempenadeira, marreta, alavanca, calçadeira, enxada, cavadeira, foice roçadeira, martelo, disco de serra, régua, prumo, cabo] utilizadas na restauração da antiga subestação da antiga Light/Riachuelo/AES Eletropaulo, negociadas com e doadas pelos mestres-de-obras e pedreiros envolvidos nesse restauro
Dimensões variáveis
Trabalho, 2013-2016
Ferramentas [pá, desempoladeira, ponteira, serra, escova de aço, escada, nível de bolha, gambiarra, cavador articulado, colher de pedreiro, talhadeira, arco de serra, picareta, chave de dobrar ferro, sarrafo, desempenadeira, marreta, alavanca, calçadeira, enxada, cavadeira, foice roçadeira, martelo, disco de serra, régua, prumo, cabo, prolongador extensível, balde, esquadro, broxa, caixa de massa, pedaço de martelo, estilete, chave de fenda, espátula plástica, recipiente plástico, frasco pulverizador, rolo de lã, rolo de espuma, garfo para rolo, espátula, pincel, pulverizador, trena, serrote, tripé] utilizadas na restauração da antiga subestação da antiga Light/Riachuelo/AES Eletropaulo, negociadas com e doadas pelos mestres-de-obras e pedreiros envolvidos nesse restauro
Dimensões variáveis
Coleção: Museu de Arte de São Paulo – MASP
foto: Edouard Fraipont e Daniel Mansur
Exposições
Entre nós – A figura humano no acervo do MASP, CCBB Belo Horizonte, MG, 2017
Trabalho, Museu de Arte de São Paulo – MASP, SP, 2016
Alessandra Domingues, Chico Togni, Fabiana Faleiros, Raquel Uendi, Rodopho Parigi e Thiago Honório, Red Bull Station, SP, 2014