Pintura de parede, 2013-2021
A série Pintura de parede foi iniciada em novembro de 2013, no contexto de uma residência artística realizada num prédio histórico no centro de São Paulo, que encontrava-se em restauro no mesmo momento em que a minha residência e ateliê – também localizados no centro de São Paulo e no mesmo apartamento, nesse caso, de um prédio dos anos 1940 – estava em reforma. Ela acabou gerando um conjunto de pinturas construídas com lixas abrasivas de diversas gramaturas, usadas na reforma de meu ateliê e minha residência, descartadas, produzidas em diferentes formatos, entretanto, seguindo a malha evocada pela própria marcação, pelas dobras, pelos vincos e cortes feitos individualmente em cada folha de lixa, no ato mesmo de usá-las, algo aprendido com um pintor de parede, para melhor manejo e aproveitamento de área material.
Há no trabalho um relativo “espelhamento” não só pelas dobras realizadas em cada uma das folhas de lixas – para a sua utilização e fricção sobre a superfície das paredes pintadas –, como o espelhamento, por assim dizer, referente à ideia de residências em obras em tempo real: o prédio da residência artística relacionado ao momento em que o trabalho estava sendo construído, encontrava-se em obras, em processo de restauração, ao mesmo tempo que a minha residência-casa. Há, então, na construção dessa pintura, uma espécie de transplante de superfícies.
Essa série desdobrou-se, ainda, nas instalações The Red Studio I, 2014-2018, e The Red Studio II, 2014-2019, apresentadas no âmbito de uma residência artística realizada no International Studio and Curatorial Program – ISCP, em New York, entre dezembro de 2018 e março de 2019.
A partir de 2019, as pinturas também foram exploradas em pequenos formatos. Essa escala, mais intimista, considera a divisão feita em cada unidade de lixa, em 4 partes, a partir de vincos e dobras, suas diferentes gramaturas. É constituída por retalhos reciclados dessas lixas, e foi produzida durante o período da quarentena da Covid-19, entre março de 2020 e maio de 2021, período também marcado por uma outra relação com as noções de contato e superfície.
O trabalho também apresenta em sua evidência física um embaralhamento que parece deixar em suspenso uma questão diante dele: o que é pintura e obra nesse trabalho? Pintura de parede, a superfície da parede arquitetônica pintada, a superfície da pintura de natureza mais gestual construída pelas manchas expressivas presentes nas superfícies gastas, rasgadas, furadas, vincadas, esfoliadas e friccionadas das lixas?
Um comentário sobre pintura.
Thiago Honório, março de 2021.
Ficha técnica
Pintura de parede, 2013-2021
Lixas gastas utilizadas na pintura das paredes da residência e do ateliê do artista, em São Paulo, no período da realização de residência artística
109 x 178 cm [díptico]
54,3 x 44,3 cm
27,1 x 22,2 cm
13,3 x 10,7 cm
13,3 x 21,4 cm [quina]
foto: Edouard Fraipont e Nico Vidal
Pintura de parede, 2013-2018
Lixas gastas utilizadas na pintura das paredes da residência e do ateliê do artista, em São Paulo, no período da realização de residência artística
164 x 223 cm [díptico]
110 x 88,4 cm
54 x 45 cm
foto: Edouard Fraipont
Pintura de parede, 2013-2014
Lixas gastas utilizadas na pintura das paredes da residência e do ateliê do artista, em São Paulo, no período da realização de residência artística
300 x 275 cm
foto: Edouard Fraipont
Exposições
Ópera,
Piero Acthugarry Gallery, UY, 2023
Arte, Cidade e Patrimônio: futuro e memória
nas poéticas
contemporâneas, Centro Cultural Oi Futuro, RJ, 2021
Alessandra Domingues, Chico Togni, Fabiana Faleiros,
Raquel Uendi, Rodopho Parigi e Thiago Honório, Red Bull Station, SP, 2014
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