Penca, 2014-2017



 
                 Penca constitui-se numa espécie de arranjo formado por inúmeras luvas de látex gastas atadas umas às outras. Essas luvas – também recorrentes no vocabulário de utensílios e produtos de limpeza doméstica – foram usadas por variadas mãos de diversos profissionais trabalhadores, a saber: pedreiro, pintor, assistente de pintor, marceneiro, restaurador, médico, lixador, raspador, encanador, empregada doméstica, professor, artista plástico.
 
                 É possível notar, na superfície do trabalho, áreas – carcomidas, perfuradas, respingadas de tintas, substâncias e produtos diversificados, desgastadas, manchadas e sujas, corroídas – nas quais são identificados usos e empregos variados, fricções, movimentos, atritos, e que, por vezes, pela subversão desses usos, sofreram reações aos mais diversos agentes químicos utilizados em diferentes tipos de trabalhos.
 
                 A união presente em Penca também se dá em três planos: no plano físico, no qual as luvas de borracha são, de fato, unidas umas às outras; social, nos quais profissionais de diferentes áreas do conhecimento e classes usaram as mesmas luvas para a realização do mesmo trabalho; e simbólico, o “arranjo” de Penca não deixa evocar, ainda, pelas cores das luvas de borracha e da pigmentação dos diferentes resíduos sobre elas, cachos, balangandãs, um agrupamento de frutos, flores ou folhas, sorvados e em quantidade, bem como, a partir de seu desenho quase diagramático, uma bizarra natureza-morta. 

Thiago Honório, setembro de 2014.