Paparazzi, 2008-2010
Essa palavra de origem italiana, paparazzi, como se sabe, nomeia aqueles fotógrafos que flagram celebridades, autoridades, expondo suas vidas, exibindo sua intimidade. O paparazzo ávido pela captura de uma cena inédita protagonizada pelo célebre fotografado acaba por vendê-la – em meio a especulações variáveis – para a imprensa, por altos valores. Evidentemente, o preço pago pela imagem, pela cena flagrada, está relacionado à fama da celebridade, bem como à situação em que se encontrava no instante em que foi fotografada, ao momento íntimo, privado, por vezes comprometedor ou desagradável.
O termo paparazzi foi popularizado no cinema pelo filme La dolce vita (1960), de Federico Fellini (1920-1993), ambientado numa Roma a um só tempo sofisticada e decadente e tendo como personagem central o jornalista Marcello Rubini, obcecado por flagrantes e fofocas. O jornalista era acompanhado pelo fotógrafo Signore Paparazzo, personagem inspirado no fotógrafo italiano Tazio Secchiaroli (1925-1998). Do fotógrafo vivido por Walter Santesso advém a popularização do termo. Do filme La dolce vita à morte da princesa Diana de Gales (1961-1997), passando pelos processos jurídicos a que respondem pela invasão da privacidade alheia, os paparazzi acompanham cada passo das celebridades, alimentam-se e vivem disso, retroalimentando, também, a fama (e, com isso, o dinheiro).
O trabalho Paparazzi é composto por dois espelhos circulares e sem aros, com lentes de aumento, posicionados paralelamente, com zoom in, zoom out e braços articuláveis de latão dourado, dispostos à altura dos olhos do observador. Uma preocupação central no desenho e na pesquisa de materiais que constituíram esse trabalho residiu no fato de as duas lâminas circulares de espelho não terem nenhuma moldura, de elas quase se “dissolverem” no espaço com seus limites cortantes. Esperava-se que, em face da perda de seus contornos, desse possível “desaparecimento”, o observador se deparasse de maneira meio abrupta com os dois espelhos e que os braços articuláveis das lâminas sugerissem movimentos pontiagudos no ar. Também havia, por parte desse trabalho, um movimento de aproximação e repulsa, como em Vis-à-vis, e que, igualmente, parecia evocar os movimentos zoom in e zoom out ópticos da câmera do paparazzo e, por que não, um questionamento sobre os respectivos domínios contemporâneos da “privacidade” e da “publicidade”.
Ficha técnica
Paparazzi, 2008-2010
Espelhos arredondados e sem aros, lentes de aumento, estrutura articulável e latão
95 x ø 60 cm
foto: Edouard Fraipont
Exposições
Estranhamente Familiar, Instituto Tomie Ohtake, SP, 2013
Corte, Galeria Laura Marsiaj, RJ, 2011
Corte, Galeria Virgilio, SP, 2010
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