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Imagem, 2008-2010


                                                                                                       
                           
                 Trata-se de um trabalho formado por uma cabeça de imagem de roca, do século XVIII, acondicionada numa redoma de acrílico e disposta sobre uma pele inteiriça de animal, pele que reveste o tampo de um cubo de espelho de prata lapidado de 1,20m de aresta.

                 A imagem de roca tradicionalmente aparece em procissões e altares e consiste numa estrutura de madeira articulável que dá a ver apenas a cabeça, mãos ou braços e, às vezes, os pés do santo esculpido, envolto em indumentária e adereços que a caracterizam conforme seus usos litúrgicos. A imagem de roca geralmente apresenta feições ricas em expressões e gestos realistas. O corpo formado por estruturas, ripas de madeira, torna-a mais leve, portátil, favorecendo o trajeto processional. Grande parte das imagens de roca era construída numa escala aproximada da escala natural do corpo humano.

                  No caso da construção de Imagem, o trabalho exigia que a cabeça da imagem de roca tivesse o olhar dirigido “para a frente”, a um ponto de fuga virtual – algo quase impossível no caso dessas imagens que, em sua maioria, têm olhares penitentes, revirados, piedosos, olhos exageradamente voltados para cima, com a área branca do globo ocular à mostra. Foi, portanto, uma façanha, depois de muita procura, eu ter me deparado com esse objeto num remoto antiquário em Nova York.

                 Havia estabelecido, nessa pesquisa, a condição de que fosse uma peça histórica anterior ao século XIX. O olhar da imagem em Imagem deveria ser alinhado, fixo. Pesquisei imagens que tivessem olhos mais realistas, de vidro. É importante notar que essas imagens geralmente têm os membros esculpidos pintados mediante um delicado e minucioso trabalho de policromia, que confere um tratamento especialmente realista, como se disse, à cabeça, às mãos e aos pés. Ao se esculpir a cabeça, eram utilizados, por exemplo, vidro nos olhos, presas para a realização dos dentes, pêlo natural para as perucas. Desse modo, um corpo descontínuo já se evidenciava na construção desse objeto, um corpo inanimado, articulável, travestido, adornado… As articulações permitiam o movimento dos braços e antebraços, mãos e pernas, possibilitando às fi guras fi carem de pé, sentadas ou ajoelhadas; facilitavam, igualmente, a colocação das vestes. Em relação às vestes, eram feitas de tecidos finos – rendas, brocados, sedas e veludos –, bordados, muitas vezes, a ouro ou prata, noutras vezes, com pérolas e pedras semipreciosas.

                 Imagem solicitava da cabeça um paralelismo do olhar uma vez que problematizaria uma relação com o observador vis-à-vis. Tal paralelismo implicaria numa relação com o observador mas poderia, também, envolver uma “competição” com ele, pois os olhares confrontados permanecem externos um ao outro. O interesse do trabalho por esse posicionamento se dava, então, pelo fato de Imagem buscar, como se disse, um olhar alinhado a um ponto de fuga virtual. Daí a necessidade de olhos voltados para a frente.

                 O trabalho repõe o questionamento sobre a condição de surgimento do trabalho de arte no momento mesmo de sua exibição, interrogando, assim, o ato de olhar – afinal, nesse ato, quem olha e quem é olhado? – e ainda buscando manter em uma espécie de suspense as expectativas de um visitante em relação às obras em uma exposição de arte.

Thiago Honório, 2010.






Ficha técnica

Imagem
, 2008-2010
Cabeça de imagem de roca do séc. XVIII, pele inteiriça de animal, espelho de prata lapidado e acrílico cristal
180 x 120 x 120 cm

foto: Edouard Fraipont e Thiago Freire


Exposições

Convite à Viagem - Rumos Artes Visuais,
Paço Imperial, RJ, 2013
Intuição et cetera, como parte do projeto Convite à viagem – Rumos Artes Visuais, Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, PE, 2012
Volta ao dia em 80 mundos, como parte do projeto Convite à viagem – Rumos Artes Visuais, Centro Cultural Octo Marques, GO, 2012
Convite à Viagem – Rumos Artes Visuais, Itaú Cultural, SP, 2012
Corte
, Galeria Virgilio, SP, 2010





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