DULCINÉIA, 2017
Em 2017 fui convidado pelo coletivo Dulcinéia Catadora, formado em 2007 por Lúcia Rosa, após um trabalho colaborativo com Eloísa Cartonera na 27a Bienal de São Paulo, para desenvolver um “livro-obra” com as mulheres que o integram, em comemoração aos 10 anos desse coletivo que realizou livros com alguns artistas como Fabio Morais, Élida Tessler, Keila Alaver e Paulo Bruscky.
O processo de construção do livro DULCINÉIA se deu a partir de encontros com as integrantes do coletivo na Cooperglicério, no bairro do Glicério, no centro da capital paulista, onde elas trabalham na coleta e separação de papéis, e também na residência de uma das integrantes, nas proximidades da cooperativa. DULCINÉIA nasceu, então, de conversas e trocas para que, juntos, as quatro mulheres do coletivo e eu, chegássemos ao livro.
Foi num desses encontros na casa de uma das catadoras que toda a conversa se deu em torno da ideia de marcar um nome, de o coletivo ter um nome próprio, de uma mulher, de uma personagem, atravessado, agora, pela experiência daquelas quatro mulheres aguerridas que mantêm vivo – a duras penas e em tempos difíceis na cidade de São Paulo – o Dulcinéia Catadora. Para reflexão e discussão, lancei às quatro integrantes do coletivo perguntas como: Quem é Dulcinéia? Quem foi Dulcinéia? O que cada uma de vocês tem de Dulcinéia? O que Dulcinéia significa para vocês?
A partir daí, a ideia de nome como furo, de leitura como furo, de livro como furo, de arte como furo, de nome que é título e de título que é nome, a um só tempo perfurados, de leitura, livro e arte como experiências de atravessamento ou que atravessam, foram problematizados no processo de construção desse livro.
DULCINÉIA foi totalmente elaborado com o papelão de caixas de embalagem e escrito por um instrumento próximo àquele usado no ato de catar os papéis, como também por agulhões, a partir de furos na construção do nome próprio Dulcinéia. O livro apresenta, assim, as letras desse nome, cada uma em uma página, escritas por diferentes gestos, forças, expressões e estados de ânimo, ou seja, diferentes letras. Trata-se de um nome – DULCINÉIA – construído e escrito pelas oito mãos e quatro cabeças das mulheres integrantes do coletivo Dulcinéia Catadora. Cada um dos livros traz, pelo menos, uma letra ou marca de uma dessas quatro mulheres mesclada a outras. DULCINÉIA, o livro, é, desse modo, um corpo compósito, constituído e construído por quatro diferentes letras das quatro mulheres que o integram: Ágatha Emboava, Andreia Emboava, Lúcia Rosa e Maria Aparecida Dias da Costa.
Thiago Honório, maio de 2017.
Ficha técnica
DULCINÉIA, 2017
Feito em colaboração com o coletivo Dulcinéia Catadora
Livro de papelão perfurado, barbante
19 x 17,5 x 4 cm
50 exemplares enumerados
Coleção: New York Public Library
foto: Edouard Fraipont e Ana Pigosso
Exposições
Leituras, Biblioteca Mário de Andrade, SP, 2024
Dulcinéia, Tijuana, SP, 2017
© thiago honório 2024
by estúdio garoa