Documents, 2012
Documents foi realizado no primeiro semestre de 2012 durante o período de residência na Cité Internationale des Arts, em Paris, no âmbito do Programa de Residência Artística da FAAP.
O trabalho é constituído por uma “mesa”, cujo tampo é de compensado de madeira – três lâminas que são aparafusadas umas às outras por baixo e com travas, neste caso, aplainadas –, com 6,30 metros lineares de comprimento, 82 cm de largura e 3 cm de espessura, apoiado sobre seis cavaletes da mesma madeira. Os cavaletes também são abertos e estabilizado por travas. Algo próximo de uma bancada, de uma mesa de marcenaria, carpintaria ou mesmo relacionada à construção civil, ao universo do trabalho. Sobre ela, perpendiculares à mesa e desprotegidos de redomas ou vitrines, portanto, “disponíveis”, é apresentado um conjunto de serrotes, adagas, facões, punhais, enxadas, serras, cutelos, foices, lanças, facas, espadas, cuchilas, abridores de cartas, instrumentos perfurantes, cortantes, dos séculos XVIII, XIX, XX e XXI (45 instrumentos), que fui adquirindo a partir de um foco determinado, e ao longo de seis meses, em vide-greniers (vendas de garagem) e brocantes (feiras de quinquilharias e de antiguidades) e marché-aux-puces (mercados de pulgas) realizados nas ruas de diversos bairros de Paris, periféricos e centrais.
Documents é apresentado sem a marcação de faixas de delimitação e segurança. O jogo entre atração e repulsa que pode ser estabelecido entre o trabalho e o espectador, assim como uma certa tensão no ato de o público possivelmente querer tocar os instrumentos perfurantes ou cortantes, lhe são cruciais.
Os instrumentos estão discretamente tensionados e atados ao tampo da mesa por cabos de aço quase imperceptíveis, dispostos numa sequência não hierarquizada. Não foram organizados, nem tampouco ordenados, por uma sucessão cronológica, gradual (do menor ao maior objeto ou vice-versa), menos ainda por famílias. Desejei que o desenho dessa sequência, por assim dizer, fosse mais próximo do jazz, que ele evocasse quase o ziguezague da linha do desenho de um eletrocardiograma. Em Documents, a apresentação e a disposição desses instrumentos configuram-se, também, como “documentos”, “atestados”, como “prova do crime” alhures.
Uma outra camada de trabalho relacionada a Documents diz respeito a um folheto-mostruário – que deve ser reimpresso a cada apresentação do trabalho –, disponível ao público e que apresenta uma espécie de diagrama constituído por uma ilustração esquemática (como geralmente se vê nos manuais de instruções) dos objetos cortantes, relacionados a boulevards, vielas, ruas, alamedas, praças, pontes, vilas e bairros de Paris, periféricos e centrais, nos quais foram encontrados.
Thiago Honório, novembro de 2012.
Ficha técnica
Documents, 2012
[Conjunto de objetos cortantes dos séculos xviii, xix, xx e xxi recolhidos em vide-greniers (“vendas de garagem”), brocantes (“feiras de quinquilharias e de antiguidades”) e marchés aux puces (“mercados de pulgas”) de diversos bairros periféricos e centrais de Paris, cabos de aço, tampos de mesa e cavaletes de madeira
6,30 m x 0,82m x 0,03 m]
[Folheto-mostruário sanfonado disponível ao público, contendo a ilustração esquemática desses objetos associada aos nomes dos locais, das videgreniers (“vendas de garagem”), brocantes (“feiras de quinquilharias e de antiguidades”) e dos marchés aux puces (“mercados de pulgas”) nos bairros periféricos e centrais de Paris, nos quais eles foram recolhidos]
Coleção: Museu de Arte Contemporânea de São Paulo – MAC/USP
foto: Edouard Fraipont
Exposições
Tempos fraturados, Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, SP, 2023
Paradoxo(s) da Arte Contemporânea: Diálogos entre o acervo do MAC USP e o acervo do Paço das Artes, MAC/USP, SP, 2018
o Agora, o Antes – uma síntese do acervo do MAC, MAC/USP, SP, 2018
Voilà, Museu de Arte Brasileira – MAB/Faap, SP, 2012