Anahí, 2023
O trabalho inédito nomeado Anahí consiste na construção de 600 esculturas de cerâmica esmaltada da flor de ceibo, também conhecida com “Anahí”, em escala natural 1:1, espalhadas em arranjos pelo pueblo de Garzón, no Uruguai. Ele parte da lenda Tupi Guarani da indígena Anahí que, resistindo à colonização espanhola, ao ataque dos espanhóis, foi queimada viva e, no local onde foi queimada, nasceu uma árvore com flores em formato de chamas de um vermelho intenso. A flor de ceibo, Anahí ou corticeira é símbolo do Uruguai e da Argentina.
As 600 flores de cerâmica esmaltada são dispostas em arranjos, espécies de cachos como no caso da árvore, e salpicadas desierarquicamente pelo vilarejo de Garzón. A quantidade deve, também, ao desenho do número 6 que vira 9 de ponta a cabeça, estando também relacionada ao próprio desenho anatômico da flor que tem formato “hermafrodita”, erótico, aludindo a chama, labareda, e, também, a uma concha com crista ou haste.
Partindo de um arranjo tal como na padronagem presente na rama ou galho da árvore, as flores de cerâmica soltas são pulverizadas pelo pueblo como espécies de migalhas, entretanto, diferentemente da fábula “João e Maria”, destituídas da noção de desenvolvimento, de encontro, cume. Trata-se, no caso do trabalho Anahí, de um desenho sempre parcial, que não se entrega por inteiro, sem um caminho com início, meio e fim definidos, algo do tipo “cheguei”, “é aqui”, sem origem e fim claramente demarcados.
Na cerâmica foi usado um esmalte vermelho natural que não irradiasse chumbo no ato das queimas em baixa e alta temperaturas – os esmaltes vermelhos para cerâmica são altamente tóxicos, têm chumbo na sua composição – para tanto, também foi necessária uma pesquisa minuciosa. Cada flor foi esculpida manualmente pelos ceramistas João Ferreira, Shirley Andrade e pela artista e ceramista Susanne Schirato, sob direção de Susanne.
A noção de título que é nome próprio ou de nome próprio que é título – Anahí – é recorrente em minha produção, em trabalhos que realizei anteriormente como Augusta, Dulcinéia, Luzia, Bataille, Leiris, Buñuel.
Thiago Honório, janeiro de 2023.
Ficha técnica
Anahí, 2023
600 esculturas de cerâmica esmaltada da flor de ceibo, também conhecida como “Anahí”, espalhadas em arranjos pelo pueblo de Garzón, UY
cerâmica: João Ferreira, Shirley Andrade e Susanne Schirato
apoio: Eduarda Schirato, Hermann Schumacher, Lourdes Schumacher e Sofia Schirato
foto:
José Luis Morales e Nico Vidal
Exposições
Ópera, Piero Acthugarry Gallery, UY, 2023
© thiago honório 2024
by estúdio garoa